Lumini Talks: toda a experiência de Carlos Fortes
Com mais de 20 anos de profissão e cerca de 1500 projetos realizados, Carlos compartilha em entrevista os pontos-chave da arte de iluminar
Carlos Fortes é arquiteto de formação e lighting designer por destino. Formado pela FAU-UFRJ em 1986, Carlos chegou até o design de iluminação por acaso, mas foi nele que se encontrou, desenvolvendo projetos na área por mais de 20 anos. Junto ao também lighting designer da lumini Gilberto Franco, Carlos acumulou vasta experiência na composição dos mais diversos cenários luminosos e de toda a sorte de objetos, principalmente domésticos. Em entrevista à Lumini Talks, série de lives disponíveis no Instagram da lumini, o arquiteto compartilha pontos essenciais na hora de iluminar diferentes ambientes e objetos.
trajetória
Já no fim da faculdade, Carlos estagiou junto a Paulo Casé, arquiteto e urbanista de grande relevância no contexto brasileiro. Saindo do Rio de Janeiro rumo a São Paulo, Carlos juntou-se ao escritório parceiro de Casé, a lumini, liderada por Esther Stiller. Os três – Carlos, Esther e Gilberto – trabalharam juntos de 1988 a 1994, ano em que o jovem arquiteto torna-se sócio do escritório.
A partir desse momento, Carlos e Gilberto decidem tocar seu próprio escritório, a Franco & Fortes. A parceria foi frutífera e durou até meados da década de 2000, quando Carlos decidiu seguir com seu próprio estúdio, o Estúdio Carlos Fortes. Hoje, o escritório debruça-se sobre projetos de iluminação para residências, comércios, áreas urbanas e instituições, moldando a luz sempre como complemento à arquitetura do ambiente. O estúdio conta ainda com um notável alinhamento aos padrões internacionais de sustentabilidade, como a certificação LEED.
O arquiteto conta que, uma vez que a pandemia se impôs sobre o mercado de trabalho, ainda em março de 2020, as preocupações com iluminação adequada pipocaram na mente de muitas pessoas. Segundo Carlos, a iluminação é decisiva ao preparar ambientes para receber o home office, por que ela pode regular estados de maior atenção e produtividade, além de promover o bem estar – ou comprometê-lo, no caso de uma má curadoria de iluminação.
“A criação das cenas luminosas permite pensar o espaço como um todo, e conta principalmente com três elementos: a luz difusa, a luz direta e a luz indireta”, explica o arquiteto. “A luz difusa pode ser, por exemplo, a do sol, que faz uma iluminação de fundo e valoriza a paisagem como um todo. Em conjunto com a luz direta, que tem um foco bem definido, elas constroem a materialidade do espaço, valorizando texturas e a cromaticidade. Essa combinação é excelente para valorizar luz e sombra, e destacar obras de arte, por exemplo.”
É fundamental notar, nesse aspecto, a plasticidade das diferentes ferramentas de iluminação na construção das cenas. Abajures, por exemplo, podem ser úteis na obtenção da iluminação difusa, enquanto o spot fornece um feixe preciso de luz. “No entanto, ao apontar o spot para uma superfície como uma parede branca, a luz é rebatida e torna-se difusa, destacando uma área maior do ambiente”, exemplifica Carlos.
luz & arquitetura
As sensações que a luz provoca têm muito a ver com a compreensão que temos de um ambiente, que é pensada desde o início pelo arquiteto e será finalizada pelas mãos do lighting designer. “Quando você não se dá conta da iluminação de um local, é por que ela está tão conectada e em sintonia com aquele ambiente que é como se fosse a luz fosse absolutamente natural – apesar de, claro, ser um processo longo e minucioso de estudos”, teoriza Carlos.
Segundo o arquiteto, o momento ideal para se pensar na iluminação é logo no início do projeto. Dessa forma, é possível integrar todas as etapas do processo de concepção e construção, para atingir os melhores resultados para o cliente e chegar o mais próximo possível das intenções iniciais. Nesse sentido, o lighting design vem para transformar projetos em verdadeiras obras de arte, imprimindo a eles o destaque ideal e uma atmosfera quase etérea.
A mesma lógica aplicada aos interiores deve ser considerada, também, na iluminação dos espaços externos. Deve-se ter em mente que a luz sofre variações ao longo do dia, de maneira que o lighting design propõe-se a complementar e valorizar a vegetação – e a paisagem – a todo momento. Durante o pôr do sol, por exemplo, é essencial pensar em estratégias e dispositivos que não ofusquem o espetáculo do fim da tarde, ao mesmo tempo que promovam o conforto visual e a harmonia estética.
Esse desafio também é compartilhado por ambientes que possuem, por natureza, muitos vidros e janelas em sua composição. Quando há iluminação direta, o vidro reflete o feixe de luz, o que pode incomodar os olhos num ambiente de sala de jantar, por exemplo. Quando se trata de janelas, a iluminação aplicada de maneira incorreta pode impedir a apreciação da visão externa à construção.
luz & arte
A concepção do design de iluminação deve ser cuidadoso quando se trata de conservar obras de arte. Hoje, a iluminação é muito pouco invasiva e preserva ao máximo a obra, por que a tecnologia LED emite pouco calor e radiação ultravioleta direta – fatores que representam os maiores riscos aos pigmentos das pinturas, por exemplo. “Em casa, o principal inimigo de uma obra de arte é a iluminação direta, a luz solar. Nesses casos, o LED, que permite maior controle sobre intensidade e incidência de luz, é sempre a melhor opção”, explica Carlos.